31 de mai. de 2012

O último vôo

Você pode fingir um sorriso, mas nunca a felicidade. Você pode fingir suas lágrimas, mas nunca a solidão. Todos os dias, as noites chegam mais depressa para mim, e trazem a escuridão consigo. Toda noite, uma queda, lágrimas, e uma mente caótica. Assim, toda noite crio meu próprio inferno, bebendo o veneno que afasta a paz de espírito. Está na minha mente, tudo o que pode me destruir. Quem há de dizer que pensamentos não matam? Sou corrompida pelo caos e cansaço, e engolida a cada noite por eles.
Sinto-me como um pássaro que um dia fora cheio de cor e vontade, mas que hoje mal possui forças para levantar o vôo. É como se existisse algo que me puxa para baixo ( e não me refiro à gravidade). Essa força devastadora realmente existia, não era apenas mais uma de minhas impressões: existia um pequeno pedaço de barbante resistente que, com um nó, segurava uma pedra igualmente pequena. Esse barbante estava firmemente presto à minha pata, e era isso o que tornava voar tão difícil. De início, era apenas uma pedra cinzenta que tinha por finalidade invadir meu mundo com sua cor, e, apesar de pequena, tinha um poder enorme sobre mim. Como uma pedra que consegue se reproduzir, sendo capaz de duplicar de tamanho de três em três dias, ela crescia e crescia. Cada vôo era exaustivo, cada tentativa poderia ser a última, e cada momento nos ares era doloroso e extraordinário. Quem sabe um dia eu seria capaz de voar sem sentir dor, ou talvez ver a noite com outra visão. Quem sabe um dia eu fosse capaz de voar...

27 de mai. de 2012

Adjustment

"Somente a concentração e a serenidade absolutas, que provêm do encontro do próprio centro interior, permitem que tal situação de equilíbrio se produza. O mais ligeiro pensamento que distraia a jovem a fará oscilar, destruindo o equilíbrio encontrado, a harmonia, que é a natureza do Universo. É preciso estar totalmente centrado e em equilíbrio interior para que as grandes e novas idéias que agora estão surgindo dêem frutos. A partir de uma posição de equilíbrio tudo se desenvolve de maneira equilibrada: no devido lugar, com o devido valor. 
As tempestades da vida nos fazem perder o equilíbrio repetidas vezes. A mudança constante entre centrar-se e descentrar-se é o processo que nos ensina a ser mais conscientes a cada momento que passa, de modo a manter a paz e a clareza interiores, quando as encontramos."

25 de mai. de 2012

Alomorfia

Um túnel se fecha no fim do caminho, você já não sabe se continua ou se fica. Não sabe se respira ou se desiste, não sabe se sorri ou se entrega. Num precipício, não sabe se pula ou insiste. Respire fundo, não é hora de entregar os pontos. Lembre-se daquela sensação de estar caindo... e de repente: nada. Está sendo puxada pelo vento, carregada de pensamentos desesperados. Você sabe que vai cair, mas ainda sente uma falsa esperança de que algo a fará aguentar mais tempo. Eu preciso que você encare isso: você vai cair. Pode rezar, se angustiar, mas não vai mudar o fato de que você cairá. Use todas as suas forças em vão, sua mão vai escorregar. Seu suor impregnado pela ambivalência funciona como catalisador na sua queda. É torturante, dedo por dedo você chega no limite da instabilidade. Você acaba não tendo mais como se segurar e desiste. Você se solta e cai, e cai. Aceite a queda, deixe-a fazer parte do seu ser. Você nunca esteve tão agoniada - o que sentimos antes da morte é algo inexplicável. Aquele momento, seus últimos segundos de vida que talvez sejam apenas um caminho para que a sua verdadeira vida comece. Não perca esse momento, deixe-o apossar-se de ti. E antes que possa tocar no chão novamente, tudo aquilo vira um vão - sem cor, sem cheiro, sem gosto, nem nada. Aí você descobre o que a morte é. Não é um fim, é um vácuo. É um vão sem ar, sem pensamentos, sem sentimentos, sem dor. A morte apenas é - sem conceitos ou definições.

Girl, Interrupted

- I'm ambivalent. In fact that's my new favorite word. 
- Do you know what that means, ambivalence? 
- I don't care. 
- If it's your favorite word, I would've thought you would... 
- It "means" I don't care. That's what it means. 
- On the contrary, Susanna. Ambivalence suggests strong feelings... in opposition. The prefix, as in "ambidextrous," means "both." The rest of it, in Latin, means "vigor." The word suggests that you are torn... between two opposing courses of action. 
- Will I stay or will I go? 
- Am I sane... or, am I crazy? 
- Those aren't courses of action. 
- They can be, dear - for some. 
- Well, then - it's the wrong word. 
- No. I think it's perfect. 

21 de mai. de 2012

Crises

Tanto a dizer que palavras não diriam nada. Tanto a ouvir que só nos resta o silêncio. As pessoas que estão conosco na foto vão mudando. Temos medo dessas mudanças. Sofrimento que ninguém nota, que ninguém escapa, sofrimento gerado pela impermanência, sofrimento do sofrimento, sofrimento da possível mudança. Talvez nós consigamos escapar. Vivemos numa condição onde nos falta visão, mas como falta para todos, ninguém percebe. Simplesmente vá, não escolha por onde. Somos guiados pelo automatismo. Tudo é tão automático que agir automaticamente também virou automático. Nós erramos. Imaginamos que coisas externas nos trarão maior felicidade e satisfação e esquecemos do nosso mundo interior. De repente, alguém percebeu que se entendermos o mundo interior, entenderemos o mundo exterior. Observe o mundo interior. É inevitável que as coisas envelheçam e percam os seus valores na nossa frente. A realidade atravessa as paredes da racionalidade. Como a mente cria coisas novas? Como a gente se engana? Enfrente a névoa da sua mente. Não obedeça a nuvem de distrações. Quando estamos em crise, tudo à nossa volta está disperso. Seja compassivo. Elimine as complicações. A liberdade da mente é possível. Nós não somos as nossas qualidades, apenas nos associamos à elas. O esforço produz a sensação de dor.  Às vezes vemos o nosso mundo quebrado e sentimos falta de uma estrutura rígida de nossos referenciais, sentimos falta do nosso chão. Temos a sensação de que estamos aqui porque nosso corpo está, mas nossa mente está por aí. Onde a sua mente está?

13 de mai. de 2012

Valeur

Problemas, discussões, lágrimas, desafios, enigmas - tudo isso sempre fará parte de nossas vidas. O importante é que sejamos capaz de seguir em frente, juntos. O que importa é que continuemos juntos. É importante que você seja forte, que consiga enxergar um porque para continuar. O importante é lutar, mas não apenas isso: é importante lutar por algo que valha à pena. 

Memento Mori

A luz da vida se enfraquece,
No peito a dor se amortece.
Os pés descalços se afundam, 
Os sons da noite se difundem,
E faço da morte um abrigo.


Nú, à beira do precipício,
Sei que perdi desde o início.
No espelho, não há ninguém,
Além de sombras e desdém. 


Ao menos tudo já sei foi,
Toda a angústia me foi levada,
À espera de minha jangada,
Aceito essa dor que destrói.


Escrito pelos irmãos D.M.M.

9 de mai. de 2012

Impiedosa poeira

Eram palavras suas saindo de minha boca:
- Eu não aguento mais, eu não aguento mais, eu não aguento mais, eu... não aguento... mais...!
Às vezes até as lágrimas se cansam de cair, e o sangue cansa de correr por exaustas veias, que cansam de bombear o frágil coração. E até o ato de sentir dor cansa. E os seus trêmulos dedos cansaram de digitar. E seu cérebro cansou de lembrar. Passado bom é passado acabado...está bem, talvez não seja possível existir um passado bom. Parece que o que fica na memória são as fumaças negras que de vez em quando fazem questão de aparecer para você, apenas para que você se lembre que elas realmente existiram, e que não é para você esquecê-las.
"Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repetí-lo." 
Eu não aguento mais...
Você está no escuro, você tem medo do escuro, mas não é sempre que consegue evitá-lo. Você escuta barulhos estranhos durante a noite, mas não existe a mínima chance de você abrir os olhos e ir atrás do que pode ter sido a causa do barulho. Seu medo te paralisa. Você pensa que talvez se você não abrir os olhos para enxergar as coisas ruins deixarão de existir. Você está errada. Você pode não estar vendo, mas sempre existirá algo que te fará lembrar. 

4 de mai. de 2012

Dualidade

Sentia-me como um som disperso
Que se espalhava tão rapidamente 
Quanto o perfume do belo universo
Pelas montanhas cobrindo o horizonte.

Sentia-me como um nó sem laço
Que prendia-se num leve embaraço,
Deixava perder-se no espaço
Enquanto definhava em seus braços. 

Sentia-me volúvel como uma brisa
Que uma hora ventava ferozmente
Que outrora se acalmava num instante...

Sentia-me volátil como uma chama
Que uma hora queimava ardentemente,
Que outrora apagava-se de repente...

2 de mai. de 2012

Dama-da-noite

Nessa noite serei como uma gata com pelos negros e sedosos. Estarei à espreita do mal, mas ainda esperando pelo bem. Andarei cuidadosamente pelas armadilhas da vida, desviando de todas e as deixando para trás. Vagarei pelas antigas ruas vãs que levam a lugar nenhum, apenas para que a Lua despeje seus raios brancos em mim. Pularei de pedra em pedra, de folha em folha, de montanha em montanha, fazendo o possível pra escapar de pensamentos maldosos, pessoas dissimuladas e de um passado nebuloso. Hoje à noite eu só quero paz e calmaria. Quero miar de beco em beco, correr livremente pelas árvores adormecidas, divertir-me incrivelmente apenas comigo mesma. Hoje à noite quero ser livre! Quero enxergar o reflexo da linda Lua em meus pelos brilhantes, quero realizar meus desejos mais gritantes! Quero ser levada com o vento para lugares inexistentes, inabitados, inexplorados. Quero sentir cada gotinha de orvalho me trazendo arrepios súbitos, quero escutar as risadas da noite, o perfume das damas-da-noite que dançam elegantemente sobre os céus. Quero ser aquecida pela luz intensa das estrelas, no céu invadido suavemente pela escuridão da noite, e banhado pelo início de novas oportunidades. Hoje à noite quero ser uma gata sábia, que pensa antes de falar e sabe como deve agir, quero ouvir palavras corrompidas e saber transformá-las em doces, que está pronta qualquer imprevisto e se adapta facilmente. Hoje à noite quero ser a única voz que teus ouvidos conseguem ouvir, as únicas patinhas peludas que conseguem te tocar, a única que ronrona apenas por te ver.