24 de nov. de 2013

Laranja

Eu me entreguei. Entreguei-me a vida, entreguei-me por inteira. Tornei-me única com o escuro, com as deusas, os deuses, os demônios sorridentes. Tornei-me única com os seres da floresta que dançavam para mim - chamavam-me para acompanhá-los. Tornei-me única com o Preto Velho, com a água, com a limpeza. Tornei-me apenas uma, com todo o amor que já pude receber. Senti-me pronta para passar para frente todo o amor que me fora dado; senti o amor preencher todas as células do meu ser. Tornei-me amor. 
Passei o amor pra frente, para essa linda menina dos cabelos claros, sorridente, leoa. Dei a ela tudo o que existia dentro de mim. Tornei-me um casulo negro, envolvida com minhas próprias sombras, fiz as pazes com a escuridão. Fiz as pazes com o medo do escuro, com o medo. Entendi que o bom não existe sem o mal, que a luz não existe sem a escuridão. Entendi que possuo, dentro de mim, luz, escuridão, bom, mal, caretas, sorrisos, lágrimas, suspiros. Reverenciei a todos com uma profunda gratidão. Amei e perdoei a todos. Pedi para que perdoassem a mim também. Aceitei o amor, aceitei o amor para que meu coração fosse curado. Revivi o sorriso, os olhares, as risadas. Renasci por inteira. Senti a chama laranja, a chama que havia apagado dentro de mim. Reacendi. 

Talvez tudo isso tenha sido um sonho; talvez a vida seja um sonho por si só. 

18 de nov. de 2013

Vida vã, vida vaga,
Vida veio, voltou, evaporou.
Vida vasta, vida veloz
Vida vai, envelhece, vira.

Vida vazia, vida volúvel,
Vida, verão, vestidos voando;
Vida ventando, vida vistosa,
Vida vibrante, vida vaidosa.

Vida vai, vem, volta.
Vida vermelha, vergonha, vertigem.
Vida variável, vingativa, vencida.

Vida volta, vai, vem.
Vida viajante, vida viciante,
Vidas, várias vidas.


13 de nov. de 2013

Cacos

Acho que tô longe de conseguir colar os meus cacos. 
- Acho que você já colou uma boa parte sem perceber. Eu não sei o que você passou, mas você ainda tem disposição pra querer ajudar as pessoas. Você parece ser extremamente amável independente da quantidade de porrada que tomou na cara, então acho que você esculpiu algo aí e nem notou.

3 de nov. de 2013

Malemolência

Sinto falta do teu toque - gostaria de senti-lo novamente; e me perder no seu abraço, no teu olhar que fala tanto. Mas existe algo que nos afasta - alguma barreira que ainda não conseguimos ultrapassar. Existe algo nosso que ficou para trás naquele dia, algo que se perdeu no calor, na intimidade - algo que eu queria de volta. E como dizer para meus pensamentos não pararem em você o tempo todo? Quando percebo, é o teu nome que cala em meus lábios. E quando flutuo por entre as estrelas, é com você que eu gostaria de estar. Mas isso tudo parecem apenas ser sonhos. Quando será que vou acordar?