O espelho reflete a imagem de um monstro. O espelho se quebra... não consigo nem mesmo olhar para mim mesma. Tudo o que vejo são cacos caídos, reflexos de mim mesma. Estou tão quebrada que nem mesmo me reconheço. Meus reflexos são de um eremita, uma imagem distorcida como aquelas feitas por Picasso. Quando me percebo sozinha, sei que não estou. Vocês estão sempre lá comigo, me matando aos poucos. Se me perco no escuro, sei que você vai aparecer por trás, me segurar com todas as suas forças e seus dedos pontiagudos, com suas máscaras dissimuladas que por ora estão sorrindo, por ora retratam como você é doente, e sei que vai me destruir. Após isso, encontrarei você, culpa, e com um abraço aconchegante e agonizante, que ao mesmo tempo que alivia, te sufoca. Quando lembro dos punhos vindos em direção ao meu rosto, quando sinto o sangue pútrido escorrendo, sinto também o desapontamento. Quando penso em tudo o que não lembro, em tudo o que foi apagado voluntariamente das minhas memórias, vem a devassidão. Quando penso em você, eremita, vem a vitimização, a auto-piedade, vem a crueldade de mim comigo mesma. Quando penso na culpa, vem a opressão, o fracasso, a ruína. Quando estou no escuro, não existe uma sombra definida de mim mesma. Quando estou no escuro, encaro a minha sombra. É daí que vem o medo: de tudo o que tento esconder de mim mesma quando estou na luz. É de tudo o que me segue, o que me acompanha sempre - a minha sombra. O que tanto tento negar em mim pode ser a minha força. O que nego, é a minha vitória.
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