Procurei-me nesta água da minha memória
Que povoa todas as distâncias da vida
E onde, como nos campos, se podia semear, talvez,
Tanta imagem capaz de ficar florindo...
Procurei minha forma entre os aspectos das ondas,
Para sentir, na noite, o aroma da minha duração.
Compreendo que, da fronte aos pés, sou de ausência absoluta:
Desapareci como aquele — no entanto, árduo — ritmo
Que, sobre fingidos caminhos,
sustentou a minha passagem desejosa.
Acabei-me como a luz fugitiva
que queimou sua própria atitude
segundo a tendência do meu pensamento transformável.
Desde agora, saberei que sou sem rastros.
Esta água da minha memória reüne os sulcos feridos:
as sombras efêmeras afogam-se na conjunção das ondas.
E aquilo que restaria eternamente
é tão da cor destas águas,
é tão do tamanho do tempo,
é tão edificado de silêncios
que, refletido aqui,
permanece inefável.
Cecília Meireles
Atenta-nos num tão tudo em cada este tanto tendermos ao nada.
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