2 de dez. de 2011

Fumaça

Ela andava por entre as árvores que a sufocavam. As árvores pareciam chorar - coisa que ela não conseguia mais fazer - despejando gotas e mais gotas, que encharcavam-na enquanto tentava fugir. Mas então, a pergunta que não queria calar era: porque uma menina como aquela - possuía dois olhos, duas orelhas, um nariz e uma boca, assim como todas as outras - estava fugindo de tudo e todos, daquela forma? Pois a tal pergunta tinha resposta, ainda que não satisfizesse os curiosos. A menina dizia que estava cansada de dormir e ter pesadelos, acordar e ver que nada mudou, ver a chuva cair e o sol nascer e perceber que ninguém mais se importa, ver infelizes desistindo, felizes insatisfeitos, ver o amor sendo destruído, ver o mundo em estado crítico, ver vidas caóticas, ver o egoísmo, a tristeza, a arrogância, a inveja, a ganância - tudo isso como se fosse algo normal. 
Após algum tempo, a chuva cessou e a névoa passou a encobrir a floresta em que a menina estava. E então, agora que ela não podia ver mais nada, estava feliz? Ela sempre ousava dizer que a realidade era dura demais, que preferia viver em seu próprio refúgio do que ter que lidar com a maldade universal. Mas então era vivia presa em si mesma, não sabia se defender, não tinha malícia, maldade. E de vez em quando esbarrava em outras árvores, pelo fato de estar cega pela névoa. Seus únicos sentidos eram a audição, tato, olfato e paladar. Escutava ruídos demais, e às vezes até gritos de desespero. O fato de não enxergar mais não significava que estava livre de tudo aquilo que queria evitar. E então ela se viu igualada àqueles felizes insatisfeitos, os infelizes que desistiam... Havia ela se tornado exatamente aquilo que repudiava?
Havia andado bastante, desde que entrou na floresta fechada e se perdeu completamente. Talvez ela estivesse chegado ao fim do caminho... As árvores tinham terminado, e não havia mais nada em seu caminho que a impedisse de andar. Decidiu encostar numa pedra e sem pensar em nada, olhou para o céu. Percebeu que - uma vez que fora cega pelo pessimismo (que não podia ser confundido com realidade) - havia perdido a esperança em si, e em todos. Mas ao olhar aquelas estrelas, ao navegar por aquele céu, ao escorregar pela lua, lembrou-se que o mundo não era só aquilo. O mundo era muito mais do que aquilo que ela e todos conheciam. E que o mundo em que ela viviam, com a forma que ela interpretava os fatos, com sua fé, era um mundo muito mais bonito que qualquer outro; pois naquele mundo ela havia conhecido o amor, a amizade, os valores indispensáveis e pessoas que faziam a vida ter um sentido.
Diante disso, levantou-se, respirou fundo, e olhou para trás, para toda aquela floresta que havia atravessado. Sorriu, e com os olhos radiantes, voltou-se para frente e continuou a andar, jamais olhando para trás novamente.

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