28 de set. de 2012

Lenço de seda

Eu estava lá caminhando, o vento me fazendo cócegas; o vento tocando meu rosto, tocando meu corpo; o vento me fazendo rir. Eu estava lá sorrindo, sorrindo enquanto olhava para ti, sorrindo a espera de outro sorriso. Eu estava lá, observando-te de longe. Era longe, por mais perto que eu estivesse. Era perto, mesmo estando longe. Era inconstante e distante, cada instante longe de ti, cada instante longe de mim. Eu estava lá,  sonhando, viajando, flutuando em seus braços, olhos, olhar. Eu estava lá tentando. E quando sentia saudades era de tudo, tudo de uma vez só! Mas eu estava lá, sempre a te esperar. Meus olhos brilham como raios de Sol, e eu estou sempre a te esperar.

27 de set. de 2012

Retrato

"[...]
Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?"

Cecília Meireles

24 de set. de 2012

Desapego

De repente me vi parada, esperando por algo - não sei o que é isso que tem o poder de me fazer esperar! E me vi distante de todo mundo - as pessoas passavam por mim, me ultrapassavam e não iam me esperar. O mundo estava girando e, de alguma forma, dei um jeito de ficar para trás. Tudo ficava cada vez mais distante, e eu ficava mais só. O que era isso que estava me mantendo estática, paralisada? Todo mundo seguia em frente, e eu lá, estacionada. Todo mundo se cansando... mas ora, eu me canso também! E então movi primeiro minha perna direita, e depois a esquerda, e com isso, passos foram dados e, finalmente, saí do lugar. Quando é que fui me tornar alguém que depende de outras pessoas para seguir em frente? O que é que me fez parar por alguém? Não tenho tempo para perder, nem por nada nem por ninguém! Não tenho tempo nem para mim! E então me vi cansada, cansada de esperar e depender dos outros, cansada de esperar a reciprocidade alheia. Não quero, e não vou mais depender. E então segui em frente - somente a minha própria companhia era exatamente tudo o que eu precisava. Adeus!

23 de set. de 2012

O reflexo do teu olhar

Posso dizer que me perdi naquele teu olhar. Me perdi ou me encontrei? Bom, eu não sei. Mas foi aquele teu olhar, num momento de intensa tristeza, que me trouxe paz. Me senti bem - como se estivesse no lugar certo, no momento certo, com a pessoa certa. Teus olhos foram capazes de perfurar meu escudo, todas as minhas máscaras; eles foram tudo o que eu precisava naquele instante. Teu olhar... parecia ver uma tempestade que logo viraria apenas um caloroso dia, o mar calmo, a brisa leve. Parecia admirar o horizonte, com uma extrema compreensão - como se compreendesse tudo, como se soubesse que tudo iria realmente ficar bem. Teu olhar me passou calma, paciência - ele conseguiu expressar coisas que palavras jamais conseguiriam. Teu olhar foi o suficiente para que me entendesse; para me mostrar que eu podia contar contigo; que você estava lá por mim, assim como eu estava por você. Foi no teu olhar que encontrei o que havia perdido.

21 de set. de 2012

Palavras cortantes

Minha cabeça está confusa. Não quero ter que lidar com tempestades de gelo caindo sobre minha cabeça novamente. Eu peço, por favor, que escolham com clareza as palavras que proferem a mim, pois estas, uma vez que ditas, jamais serão esquecidas. Peço, por favor, jamais esqueçam disso. Todas as palavras - e digo todas mesmo - são guardadas e minha mente, de forma que posso acessá-las novamente a qualquer hora. E elas tornam a voltar; voltam ainda mais fortes, prontas para derrubar. E derrubam, como derrubam! São como um disco na minha cabeça, repetem letra por letra, facada por facada. E repetem, repetem, repetem, sem a menor hesitação. Eu peço, por favor...

14 de set. de 2012

Correnteza

Sinto minha alma oca perdendo sua força, já não sinto nada. Meus olhos voando em sua direção, meu corpo estático no chão. Não sinto nada. O vazio tomando conta do meu mundo, o vazio fazendo parte de mim. Sinto o nada. Estou no vácuo - sem cor, sem som, sem odor, mas com dor. A dor do vazio, a dor do não sentir - dói demais! E pesa demais! Cai dos meus olhos sem hesitar, sem soluçar, cai em silêncio. O barulho do desespero, o grito sem voz dentro de você. Ninguém escuta, ninguém sente, ninguém vê. Você sente, mas não sabe o que é; você chora, mas não sabe o porquê; e dói, dói sem motivos, toda hora! Gostaria de poder silenciar o inimigo, aquela voz dissimulada, a voz amargurada, rancorosa, que habita em minha mente. Gostaria de me livrar dessas correntes que me prendem - correntes de seda, macias, brilhantes, que continuam por me aprisionar. Gostaria de sentir a gélida água atravessando pelo meu corpo mais uma vez, e deixá-la levar-me consigo... Queria não sentir nada.

-What should I do? I am lost. How do you deal with that weight? My hands are getting tired. Call it a joke or a lie, call it a joke or a lie. I try, I tried.

11 de set. de 2012

Olhos da lua

Olhos brilhando, ansiando por novidade; olhos voando, em busca de liberdade. Olhos confusos, dispersos, em vários lugares; olhos que despertam curiosidades. Olhos claros, escuros; olhos distantes e tão próximos; olhos de uma vez apenas, olhos inalcançáveis. Olhos que falam por si só, olhos que escondem, olhos que perguntam, e olhos que respondem. Olhos que choram, que sorriem; olhos que esperam e se decepcionam; olhos que cansam de se iludir, olhos que passam sem deixar rastros. Eu não preciso desses olhos - olhos que desaprovam, que afagam enquanto apedrejam, que abrem e fecham espaço, que não se decidem! Procuro pelos olhos que enxergam debaixo d'água, que voam pelos ares e me acompanham por todos os lugares. Procuro por olhos que me afastem da distração, quando necessário, que me segurem no chão e não deixem que eu me espalhe demais por aí. Quero olhos que me entendam apenas por um gesto, que me aceitem com as coisas boas e todo o resto. Preciso de olhos reconfortantes, sempre à espera para me olhar; não precisam ser olhos gigantes, desde que eles consigam enxergar as coisas em seu lugar. Preciso de olhares que durem mais um pouco, de piscadelas mais demoradas, de olhos que façam o tempo parar. E de tantos olhos, logo nos teus que eu fui me acomodar...