26 de nov. de 2012

O tempo e a espera

O tempo passa, depressa,
Mas eu só sei fugir da espera;
Então eu fujo, com pressa,
pois a espera me desespera!

Cansei de ansiar e não ter,
De esperar e não ver,
De querer não sei o quê
E nunca me satisfazer...

Cansei de viver no passado 
E num futuro desesperado...
Para que tanta demora...?
Eu cansei de esperar!

O tempo cansa, não descansa,
E o tempo jamais espera!
Então espero como uma criança
Perdida na atmosfera...


19 de nov. de 2012

Iluminada

O som das ondas se quebrando no mar toma conta de mim - e me quebra também! Com sua invencível correnteza, vejo-me vulnerável; à mercê de sua vontade. E você me quer! Me puxa, me arrasta, me tira o fôlego, me tira a vida, aos poucos. Onda após onda, vou soltando as rédeas da consciência e, desesperadamente, conformo-me com a situação. Não vejo outra saída, senão entregar meu corpo a ti, aquele que ilusoriamente contém a minha alma, a minha vida. Pergunto-me porque fui eu a escolhida; porque naquele pedaço de mar salgado, naquela situação, afogada por aquelas específicas ondas que jamais se repetiriam novamente. Tento lutar contra a ideia - a sensação de desespero toma conta. Não queria sentir aquilo, passar por aquela situação - estava demasiadamente apegada ao meu "eu", ao ponto de partir junto com ele. Não gritei por ajuda, não pedi socorro - simplesmente aceitei o não-sei-o-quê que estava por vir. "Você queria morrer em silêncio?!" Não! Não queria partir! Não era a minha hora! Mas talvez você achasse que fosse a hora... talvez tenha me confundido com outro alguém. Tão jovem, cabelos vermelhos no mar, quase a me tornar uma porcentagem daqueles que sofreram e se foram da mesma forma - asfixiados pelo apego, pelo mar, pela falta de consciência e pela falta de voz que nos impediu de gritar. Não gritei porque pensei que eu não fosse, na verdade, em nada pensei. E fui salva! Alguma força maior do que aquela que me puxava resolveu dar mais uma chance. Eu estava ali, no mar salgado, sentindo a dor de quase perder essa preciosa chance. Eu sobrevivi. Não desperdice a sua chance!

Sete negações

E o que nos resta senão os olhos, neste mundo em que tudo passou a ser instantâneo? E são eles, justamente, o que mais nego agora. Cansada de procurar o inimigo do lado de fora, percebo que ele está escondido aqui dentro. Agora vejo que sinto medo de mim mesma, medo da minha própria alma. Ao negar os outros, estou negando a mim mesma. Como quem mergulha debaixo d'água, não posso mais contar com minha visão, uma vez que ela se torna embaçada, e meus olhos doem ao tentarem enxergar. Acho que cansei dos meus sentidos! 

Olhos cadentes

De repente percebo que não quero ser mais uma telespectadora da vida que, inconformada, não faz nada do que se possa orgulhar enquanto todos aqueles anos passam. Não quero ser mais uma daquelas que reclamam e não se dão o trabalho de mover um dedo para mudar. Tudo é tão difícil, tudo é tão difícil! - Precisamos tentar! Daqui de cima, as luzes das pequenas cidades tornam-se estrelas, e o céu passa a ser invertido. Espero chegar a algum lugar, após tantas curvas e turbulências. Vejo um milhão de estrelas cadentes e penso que pode ser miragem - elas desaparecem. Agora, tudo o que resta é escuridão, mas isso não tem mais o poder de me incomodar. De vez em quanto, vejo uma luz ou outra; penso que pode ser você, de alguma forma, lembrando de mim. Lembro de como aqueles teus olhos brilhavam, e como me traziam paz. Quero ter essa paz, com teus olhos ou não! Eu quero ser essa paz. 

8 de nov. de 2012

Teia

Rio de mim mesma ao perceber que estou caindo na mesma armadilha novamente. Eu percebi, entretanto, que não sei se possuo forças suficientes para me soltar dos fios que me prendem. Sim, estou presa por fios - não são cordas, correntes - são apenas fios. Fios facilmente quebráveis, mas que cortam, quando tento escapulir de alguma forma. Me sinto "eu" novamente, mas um "eu" que já havia morrido, um "eu" que já estava bem longe da minha realidade atual. 
Eu ri de mim mesma, ao perceber que estava caindo na mesma armadilha novamente. Uma vez que percebi, portanto, já me vejo capaz de atravessar aqueles fios - eles já não têm mais o poder de cortar. Até mesmo o objeto de desejo mais forte perde a sua força, uma hora ou outra. E então, recuso o venenoso bolo antes mesmo de experimentá-lo.

5 de nov. de 2012

Móbile solto num furacão

Minha mente é um furacão devastador que destrói cada lugar por onde passa, dentro de mim. Sinto que perdi controle de mim mesma - passei a ser algo que somente age por impulsos. Gostaria de soltar as cordas que possibilitam cada movimento meu; cada gesto impensado, cada pensamento inconsequente. Me condeno pelo que penso, pois já não tenho controle. Sinto ambivalência. Por vezes orgulho-me de mim mesma, por vezes quero me agredir. Gostaria de calar a boca daqueles que falam sem pensar, paralisar aqueles que agem sem medir. Eu me calo, então, e me vejo paralisada. Sinto o sangue escorrendo de meus olhos, de meus lábios. Sangue venenoso, infectado. Sangue impregnado com lembranças, com emoções aflitivas, com visões rasgadas e sons que ensurdecem. Queria ver nada, sentir nada, ouvir nada. Eu queria o nada. Queria o branco, a tranquilidade, o silêncio - tudo aquilo que se encontra ausente em mim. Queria ter o poder de apagar o que me aflige. Gostaria de parar de fazer o que quero, uma vez que o que quero só me quer mal. Fui vencida por dedos mais fortes e ágeis que eu, mais decididos e invencíveis. Enxugo lágrimas humilhantes e inadmissíveis, imploro pela força de vontade que falta em mim. Eu quero paz.. me deixem em paz!

2 de nov. de 2012

Breakthrough

Simplesmente não espere dos outros o que nem você mesma consegue fazer.

Gostaria de me despedir de você, pequena menina. Te agradecer por todos esses anos em que estivemos juntas, sempre encontrando alguma forma de sobreviver nesse mundo. Te dizer que sou muito grata por estar sempre presente comigo. Te dizer que você tem condições de ter uma vida extraordinária, e que, por esse motivo, eu preciso que você continue-a sem mim. Eu me responsabilizo por ter agido de forma auto-crítica com você. Eu sinto muito. Fico feliz, porém, de perceber que você é capaz de compreender. Você sempre esteve lá quando precisei, você é a pessoa que eu mais conheço nessa vida, e a pessoa que mais amo. Sem você eu não teria condições de existir, portanto, gostaria de lhe agradecer mais uma vez. Nesses seus 4 anos de vida, sei que ainda acontecerão muitas coisas contigo. Ano que vem, sua vida mudará completamente, irreversivelmente. Mas talvez exista o lado positivo em cada situação ruim que passamos, e preciso te dizer que não é culpa sua, nem de sua mãe ou seu pai, não existe um culpado. As situações - tanto boas quanto ruins - sempre acontecem por um motivo; você foi criou possibilidades para que elas ocorressem. Você passará por momentos felizes e tristes, porém é de extrema importância que não se deixe ser derrotada pelas dificuldades, que não se dê por vencida. Permaneça forte, pois você possui uma força incrível. Saiba valorizas as alegrias e minimizar os efeitos negativos em sua vida. Respeite e ame a si mesma, pois assim, poderá passar isso adiante.

A pequena criança te olha séria, hesitante. Ao ouvir suas palavras, ela fica sem reação. É muita coisa para ela entender, e a distância entre vocês é grande demais. Você se agacha, olha para aqueles pequeninos olhos cor-de-mel. Ela compreende, dá um sorriso meio tímido. Você pega as pequenas mãozinhas dela, sorri, acaba recebendo um sorriso de volta. Agora, cada uma pode seguir com o seu próprio destino. Você se despede daqueles cabelos loiros, daquela nostálgica roupinha branca, daquele sorrisinho que só você mesma sabe fazer igual. Adeus, Enya.