5 de out. de 2009

Mais nada

Era um sobrado do início do século, com sacadas, pé-direito alto e uma escadaria em curva, cujo vão formava o espaço do oratório, cheio de imagens barrocas. Foi nesse vão, iluminado pela luz mortiça vermelha das lâmpadas, que o rapaz se escondeu naquela noite. Alí, diante das imagens que para ele eram apenas estátuas de gesso ou madeira - mais nada - ficou imóvel, à escuta. Esperando...
Esperava sozinho, por nada nem ninguém, esperando o tempo passar enquanto se relembrava das lembranças infelizes e felizes ao mesmo tempo, que aquelas fotografias o traziam. Lembrava de como e quando elas haviam sido tiradas, revivia o sentimento que ele havia sentido naquele momento em que tirara as fotos, era algo que simplesmente ele não poderia, conseguia ou queria ter de esquecer um dia.
Ele sabia que só iria piorar fazendo aquilo, àquela hora da noite, mas ainda sim gostava de voltar ao tempo e rever o que havia feito, onde teria errado, o que poderia ter feito para evitar aquele fim. Mas com todos esses pensamentos em sua mente confusa e incerta, ele ainda se sentia triste por não conseguir esquecer e por saber que os bons momentos que teve não eram e nem seriam recompensados por bons.
Não parava de pensar no que havia acontecido há um tempo, mas ele ainda estava acorrentado à aquelas lembranças que pareciam nem ao menos terem realmente ocorrido algum dia. Algumas de suas lembranças eram tão boas que pareciam simplesmente terem sido criadas por sua mente iludida e esperançosa. E sabia que elas jamais aconteceriam novamente, e que o tempo nunca voltaria para aqueles maravilhosos dias. E ele nem teria aproveitado o bastante, mas também não poderia ter aproveitado, pois por mais que ele quisesse, as coisas nunca seriam as mesmas que já foram. E continuava afundando, já faziam oito meses dessa tortura consciente inconsciente.
Não podia escrever o que estava sentido, eram diversas emoções que ele não compreendia, nem ao menos podia descrevê-las, ou nomeá-las. Ele também sabia que aquilo que sentia não podia ser compreendido por pessoa alguma. Haviam tantas perguntas em sua cabeça, perguntas para tentar descobrir respostas somente o traziam mais e mais essas incansáveis dúvidas. Perguntas que nem sabia se podiam possuir respostas, mas atormentavam-no tanto que mesmo se as respostas não o agradassem, ele preferia sabê-las do que morrer com essas dúvidas não solucionadas. Eras as dúvidas que o matavam.

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