18 de abr. de 2010

Impermanência

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor,
Na tristeza,
Na dúvida,
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas,
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Não sejas o de hoje

Não suspires por ontens...
Não queira ser o de amanhã,
Faze-te sem limites no tempo
Vê a tua vida em todas as origens,
Em todas as existências,
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a sua passagem,
Ela prossegue:
É a passagem que se continua,
É a tua eternidade,
És tu.

Não queiras ter Pátria.

Não dividas a terra,
Não dividas o céu.
Não arranque pedaços ao mar.
Não queiras ter
Nasce bem alto.
Que as coisas todas são tuas,
Que alcançará todos os horizontes,
Que o teu olhar, estando em toda parte.
Te ponhas em tudo.

- Cecília Meireles.

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