3 de mar. de 2011

Desilusão

            A aula havia terminado e eu esperava por minha mãe. Estava em pé lendo um livro, debaixo de uma árvore bem alta com longos galhos, o que proporcionava uma agradável sombra. O sol estava bem intenso. Havia um banco, em meio a multidão escolar, e nele havia um garoto sentando, escutando música. Desde a primeira vez que eu o vi, senti-me atraída imediatamente. Eu já havia visto esse garoto uma vez, de uma pequena janela que ficava na parede da sala dele, que oferecia a visão do que estava acontecendo na aula. Decidi sentar-me no tal banco, ao lado dele, e mesmo estando tão perto, parecíamos bem distantes. Fingi estar completamente concentrada no livro que eu estava lendo, ignorando a presença do tal garoto. De repente, ele pergunta-me se eu não estava com calor, pois, apesar do calor intenso, estava vestindo o casaco do meu colégio. Surpresa, porém sem refletir muito sobre o assunto, respondi que sim, estava com calor, mas que esperaria a minha mãe chegar para tirá-lo, pois ela já estava quase chegando. Não recordo-me de muitos detalhes do nosso curto diálogo, mas lembro que ele perguntou qual livro eu estava lendo. Sua pele era pálida e branca, seus cabelos bem escuros contrastavam com sua palidez e o tornava ainda mais atraente. Não sei se eu estava fascinada demais, mas seus olhos eram verdes escuros, algo que eu nunca havia visto antes! Eu tinha tanto o que perguntar, mas não sabia exatamente por onde começar, e nem falar direito eu conseguia! Livros eram os meus grandes companheiros matinais, e eu adorava ler diversos livros diferentes ao mesmo tempo. Perguntei a ele onde ele morava, qual era o seu antigo colégio, enfim, coisas banais. Momentos de silêncio entre nós me incomodavam constantemente e com medo de falar algo inútil ou desinteressante, eu preferia lidar com o constrangimento silencioso. Após uma falsa despedida, o silêncio reinou entre nós até que a minha mãe chegasse para, de certa forma, me salvar do calor e nervosismo que me invadia. Perdia-me rapidamente na velocidade de pensamentos e com uma singela despedida, entre no carro e passei a viajar no meu mundo interior.
            Foi impossível imaginar o que acabava de acontecer. As pessoas do meu colégio não costumavam falar comigo abertamente, sem um motivo aparente. E por que então logo você fez isso? Durante o dia seguinte, não conseguia tirar-lhe de minha mente, e mal podia esperar para olhar em seus olhos misteriosos e hipnotizantes. Na próxima manhã, logo o avistei dentro de sua sala e como eu gostaria de ser do mesmo ano que você! Acompanhar seus passos, palavras, gestos, pensamentos. Gostaria de conhecer-lhe melhor.  Todas as vezes que nos encontrávamos, seu olhar gritava "gostaria de falar contigo de novo!", e com sorrisos como perguntas e respostas, encontrei-me completamente perdida e atada a você.  Não possuíamos amigos em comum, portanto, a comunicação verbal não fazia muita parte de nossos diálogos. E então, no fim da aula, passei por ele novamente e com uma simpática piscadela e um sorriso desajeitado,  nos despedimos. Você passou a ser o único motivo da minha vontade desesperada de ir ao colégio. Do dia seguinte em diante, algo aconteceu. Eu passava por você, mas não me olhava. Eu sorria para o nada e para o além inexistente. Eu passava o meu tempo livre pensando em assuntos diferentes para falar contigo, lia livros de temas específicos que eu sabia que você se interessava sobre, ensaiava possíveis novos diálogos entre nós que jamais tiveram outras oportunidades para acontecer. Ficava perturbada, pensando nos motivos que você teve para essa mudança repentina de comportamento, mas nada realmente convincente vinha à tona. Então, decidi parar de criar expectativas e voltar ao mundo real.

-  E será que nos dias em que você não me vê, sente a minha falta?

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