28 de set. de 2010

Caos eólico

Ela abre sua janela, e sente o vento carregado atravessar suas moléculas. Logo tem a sensação de que tem que sair de sua casa naquele exato momento. Pegou sua bicicleta de cor amarela e flutuava rapidamente por entre as ruas de sua cidadezinha. O vento feroz dava a impressão de que derrubaria sem hesitar os prédios que teriam sido feitos com estrutura para suportar até mesmo o pior desastre natural. Eles pareciam tão frágeis perto do vento... Perguntava-se como é que o vento ainda não a havia derrubado. Então, a previsão do tempo também estava errada. O vento arrancava tudo sem esforços, do chão. A impressão que ela tinha era de estar em meio ao caos. Estava ela em um redemoinho? Tudo em volta dela girava. Areia caia em seus olhos, em sua boca. O vento bagunçava seu cabelo com certo divertimento. E levantava seu vestido laranja propositalmente. O que ela sentia, naquele exato momento? Uma alegria infinita de estar em um caos natural. Ela ria, dava gargalhadas, como se estivessem chovendo piadas de todos os cantos. Talvez o motivo daquela ventania fosse a chuva, tão esperada. Havia muito tempo que não chovia. Todos sentiam falta do cheirinho de terra molhada, de saírem de casa e voltarem encharcados. Ventava extraordinariamente. Ela decidiu que seria melhor se ela voltasse para casa. Lembrou-se de que as primeiras chuvas, após de muito tempo, eram sempre ácidas. Optou por ficar debaixo de seu bloco, porém, o vento ainda a alcançava de lá. Fechou seus olhos e apreciou aquele momento de paz e caos, ambivalente. Todas as pessoas que passavam por ela fugiam do vento, temendo que seus cabelos fossem bagunçados, que uma chuva começasse brevemente. Não compreendiam o fato de uma garota estar, de certa forma, gostando de estar naquela situação. Mas lá ela continuava, sem medo ou pressas, sem prazos ou preocupações. Sem tristezas aparentes. Ela estava feliz. Tão feliz que jamais havia se sentido daquela forma. Garoto algum havia feito ela se sentir assim. Riqueza material nenhuma havia feito dela tão feliz, tão perto da completude. 

- Talvez não devêssemos esperar por apenas uma chuva, se uma tempestade também tem a possibilidade de vir.

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