26 de out. de 2010

Autodestruição

          "Meu amigo, só a lembrança dessas horas já me fortalece. Mesmo os esforços que faço para recordar essas sensações inefáveis, para exprimi-las novamente, elevam minha alma acima de si mesma, embora me façam, em seguida, sentir duplamente a angústia de minha situação presente.
          É como se o palco da vida infinita se descortinasse diante de minha alma, e eu ali avistasse apenas um túmulo abismal eternamente aberto. Você pode dizer: "É isso mesmo!". E quando tudo passa? Quando tudo se precipita com a rapidez do raio, quando a força de seu ser se aniquila, e você se vê, ah!, arrebatado, arrastado pela torrente, esmagado contra os rochedos? Não há momento que não os destrua, a você e aos seus; não há momento que não produza, em você próprio, um destruidor. O mais inocente passeio custa a vida de milhares de pobres insetos; um só de seus passos arruina o paciente labor das formigas e enterra um mundo inteiro em um túmulo indigno. Ah! O que me comove não são as grandes e raras catástrofes do mundo, essas inundações, esses tremores de terra que devoram as cidades; o que me dilacera o coração é a força destruidora que está oculta no ventre da natureza, e nada produz que não destrua o próximo e não se destrua a si mesma. E, assim, prossigo claudicante minha angustiosa caminhada, rodeado pelo céu, pela terra e por suas forças ativas: avisto apenas um monstro que devora e rumina eternamente."

- Os Sofrimentos do Jovem Werther.

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