7 de out. de 2010

Imensidão

                                                                                                                                           "18 de agosto
        Por que razão aquilo que representa a felicidade do homem também se transforma na fonte de sua desventura?
Toda a atração e sensibilidade pela natureza viva - que alimentava e aquecia meu coração, transformando o mundo a minha volta em um paraíso cuja força benigna me perpassava por inteiro - tornaram-se agora para mim um tormento insuportável, que me persegue por toda a parte. Quando, do alto de um rochedo, euu antes contemplava, para além do rio, o fértil vale estendendo-se até as colinas distantes, e tudo germinava e florescia em torno de mim; quando observava essas montanhas revestidas, do sopé ao cume, de árvores imensas e frondosas; os vales sombreados pelas matas e o sereno regato que deslizava entre bambuzais sussurantes, refletindo as graciosas nuvens que a doce brisa da tarde embalava no céu; quando, depois, ouvia os pássaros animarem a floresta e milhares de enxames de mosquitos dançando alegremente nos derradeiros raios do sol poente, cujo último e cintilante olhar libertava da relva os besouros que zuniam; quando meu olhar era atraído para o chão por sons repentinos e movimentos ao redor, e o musgo, que extrai seu alimento do rochedo, e as giestas, crescendo na encosta da colina arenosa, revelavam-me a intimidade divina e ardente da vida da natureza: como todas essas coisas encantavam o meu coração, fazendo-me sentir como um deus. E, assim, as maravilhosas imagens do imenso universo moviam-se e animavam-se em meu espírito, vivificando-o! Enormes montanhas rodeavam-me, abismos se abriam diante de mim e formidáveis torrentes, alimentadas pelas chuvas, se precipitavam; os rios corrian a meus pés; os estrondos da floresta e da montanha ressonavam, e eu via todas essas forças misteriosas agindo e se combinando nas profundezas da terra; e, também, na superfície e no céu, a expressão de múltiplas e diferentes criaturas. Ah! Quantas vezes desejei ter as asas de um grou para poder voar até as margens do mar imenso, e beber, na taça espumante do infinito, o delicioso impulso da vida, e sentir, ao menos por um instante, no espaço pequenino de meu peito, uma gota de felicidade do Ser que engendra tudo e todos."



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