26 de out. de 2010

Ilusionista

           "Infeliz! Você está doido? Iludindo a si mesmo? Que espera dessa paixão desenfreada e sem limites? Só por ela faço agora minhas preces; em minha imaginação não há outra imagem senão a dela, e tudo o que me cerca só adquire sentido quando relacionado a ela. É certo que isso me proporciona algumas horas de felicidade, mas só até o momento em que tenho de afastar-me dela. Ah! Wilhelm, se soubesse até onde meu coração pode ir... Quando fico sentado ao lado dela, durante duas ou três horas, deliciando-me com sua presença, seus gestos, a expressão celestial de suas palavras, pouco a pouco todos meus sentidos se comprimem, uma sombra escurece-me a vista, mal consigo ouvir, e tenho a impressão de que algo me aperta a garganta, como se fosse a mão de um assassino; depois meu coração, em seu pulsar precipitado, procura atenuar meus sentidos oprimidos, mas apenas faz aumentar-lhes a pertubação... Wilhelm, muitas vezes nem sei se ainda estou vivo! E quando a tristeza me domina, e Lotte me concede o miserável consolo de desabafar meu pranto em suas mãos para aliviar-me dessa angústia... então, tenho de fugir, tenho de ir para bem longe, caminhando a esmo pelos campos. Quando isso ocorre, meu prazer é escalar uma montanha íngreme, abrir passagem através de um bosque espesso, através de arbustos que me esfolam, dos espinhos que me arranham. Então me sinto um pouco aliviado! Às vezes, esgotado de sede e cansaço, desisto e paro no caminho, no meio da noite, a lua cheia brilhando lá no alto e, então, na solidão da floresta, sento-me em um tronco retorcido, para aliviar meus pés fatigados; e, embalado por aquela meia obscuridade, adormeço exausto!... Ó Wilhelm, as paredes de uma cela solitária, o cinto de espinhos e o cilício seriam consolos à minha alma! Adeus! Para terminar esse sofrimento, só vejo um caminho: o túmulo."

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