24 de out. de 2010

Calendário

O céu desabava incessantemente, assim como as lágrimas em meu rosto entristecido pela vida desgraçada que estava levando já a algum tempo. Estava claro que certos fatos haviam deixado aquilo como consequência, mesmo que inconscientemente. Malditos domingos. O dia estava cinza. Aonde fora parar as cores do mundo? Pensar sobre o que poderia estar acontecendo era intensamente desagradável, para não dizer terrível. E de estar ciente de que de um instante para o outro, TUDO pode mudar. Jamais duvide disso como eu duvidei. O tempo provou-me sua eficácia, provou-me que mudanças eram impossíveis de serem evitadas, não importa o que você faça para impedir isso. De repente, nada mais parecia brincadeiras de mal gosto. Era muito mais sério do que isso. Não tinha nada de "brincadeira". Estavam todos tão sérios como jamais estiveram em todas as suas vidas. Jamais havia imaginado que aquilo aconteceria. Gerações que se davam tão bem juntas! Ao menos na maioria das vezes. "Lembro-me de quando tentaram estragar a minha vida." Quão injustiçado foi você foi! E que ironia, a culpa é sempre alheia. E que ironia, Senhor da Razão! "Se agi assim, foi por causa de suas atitudes." Quantidades extremas de indignação permeavam em meu sangue fervente de raiva oculta por tempo demais. Tempo demais...  Mais tempo do que eu poderia aguentar silenciosamente. Rejeitava o seu toque decididamente. E quanto mais insistia, mais o repudiava dentro de mim. "Você não se lembra que estava me devendo uma?" "Não." E após essa curta troca de palavras, tudo fazia sentido. E a raiva aumentava e queria transbordar. Ameaçava que iria explodir por meio de lágrimas ácidas que encharcavam meu olhos. Fazia de tudo para me controlar. Engoli em seco uma vez. "Você não gosta dessa música?" Nenhuma resposta vazou de mim. Com uma certa irritação, desligou a música, vestiu-se com seus óculos escuros e passou a dirigir mais rápido. Não havia um barulho sequer no mundo. Engoli em seco pela segunda vez. A chuva caía sem hesitar, molhando tudo em volta do maldito carro. E como eu queria voltar ao tempo e tirar esse domingo do calendário. Escondido atrás de seu escudo, nenhuma outra palavra seria proferida. Em frente à minha casa, o carro parou. E a vontade de estar em casa agora parecia mais do que extraordinária. "Desculpe-me." "Tchau." Os dois sabiam que essa seria a última vez que se falariam em muito tempo. Desci do carro e sem olhar para o percurso que este faria, digiri-me ao portão de entrada. A chuva caía, juntamente com as lágrimas que eu estava controlando a muito tempo. Tempo demais. "Está tudo bem?" "Claro!..." Menti descaradamente e, sem mais, tranquei-me em meu mundo de dor e desgraças...

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